Não tem lógica a tentativa de envolver Agnelo ao escândalo de Cachoeira

Brasília vive um quadro político singular. O enredo é o seguinte: Carlos Augusto Ramos, “empresário” de Goiás, conhecido pela alcunha Carlos Cachoeira, amigo confesso do senador Demóstenes Torres (DEM), foi investigado por meses pela Polícia Federal.

A motivação policial das investigações eram as atividades ilegais exercidas pelo empresário goiano: contravenção pela exploração de jogos ilegais e diversos crimes contra à administração pública. As atividades de Carlos Cachoeira, investigadas pela Policia Federal, fundamentaram a decisão judicial que decretaram a sua prisão e também aprisionaram vários dos seus colaboradores.  Cachoeira foi preso em casa. O imóvel onde morava já foi de propriedade do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Um deputado federal tucano foi flagrado diversas vezes nas interceptações telefônicas monitoradas pela polícia. Ou seja, integrantes dos dois maiores partidos de oposição - DEM e PSDB - estão envolvidos com o investigado.

O enredo acima e a divulgação dos fatos abriram uma ampla repercussão na cena política. Por conta desses fatos,  setores da mídia conservadora pautaram como necessidade vital incluir nesse enredo,  então restrito ao DEM e  ao PSDB, também o PT.

A hoje conhecida associação entre Carlos Cachoeira-Revista Veja apresentou em primeira mão o vídeo do deputado federal goiano, Rubens Ottoni (PT), na sala com Carlos Cachoeira. Tratavam de contribuição para a sua campanha a prefeito. Como o vídeo trazido pela Revista Veja era da videoteca do bicheiro a prova contra o PT ficou fragilizada. Foi necessário então buscar uma prova nos grampos legais produzidos pela Polícia Federal.  Para isso, entraram em campo as citações aos assessores e ao governador petista do DF, Agnelo Queiroz.

As conversas telefônicas gravadas, utilizadas para atacar o governo do PT no DF, são diferentes das flagradas entre os integrantes do PSDB e DEM.

A diferença fundamental é a seguinte: Demóstenes, Leréia e outros integrantes da dupla DEM-PSDB falam diretamente com Cachoeira sobre interesses, negócios  e alertam aos aliados sobre as operações da polícia.

No caso do governo do DF a situação muda. Nenhuma das autoridades do GDF aparece de viva voz ou diretamente em conversação com os envolvidos. Elas são citadas pelos grampeados. Alguém fala: estou aqui do lado do fulano. Ele falou com o chefe de gabinete. Pimba! Chefe de gabinete envolvido! Fulano afirma que número 01 quer falar com você. Analista da polícia federal deduz que a referência numérica ao “01” ou a alcunha “magrão” corresponde ao cargo de governador. Conclusão: governador Agnelo faz parte também da rede de colaboradores de Carlos Cachoeira.

Pronto! O circo tá armado no DF! É preciso calma para analisar os fatos. A associação Agnelo-Carlos Cachoeira é infundada. No mínimo, é absolutamente ridícula. Carlos Cachoeira e Demóstenes são sócios e parceiros comprovados. Ninguém duvida disso. A amizade é testemunhada inclusive nas relações de matrimônio. A sociedade aparece numa faculdade privada em Minas Gerais. A sociedade então deve possuir interesses de negócios com a administração pública do DF. As conversas entre os colaboradores de Cachoeira citando às autoridades do GDF ocorreram no período de janeiro a setembro do ano passado. Quem não se lembra, nesse mesmo período do ano, a verdadeira tropa de choque escalada por DEM e PSDB, para comparecer à Câmara Legislativa do DF com pedidos de impeachment contra Agnelo? Estava lá à frente ninguém menos do que Demóstenes e outros de alta plumagem. Estranho é  Demóstenes  pedir o impeachment de Agnelo. Será que nesse caso teria ele jogado contra o sócio? Essa gente pode ser falsa, mas não é burra. Se Agnelo facilitasse algo do seu governo para Cachoeira não seria Demóstenes a querer expulsá-lo do cargo.

A única coisa provada, envolvendo o DF nas conversas grampeadas pela Polícia Federal é que os colaboradores de Cachoeira buscavam de forma desesperada encontrar um elo de ligação com as autoridades do GDF. Um assessor nomeado pelo governo petista, conhecido pela alcunha de "Marcelão", indicado pelo então chefe de gabinete do governador, aparece disposto a cumprir essa tarefa.

Pela impaciência e o grau de reclamação gravadas nas conversas telefônicas parece que Marcelão não entregou o que prometeu a Cachoeira, mas contribuiu para ajudar aos que pretendem permanentemente atacar o governo petista do DF. É preciso mais cuidado na escolha de assessores. O GDF já possui inimigos demais fora dos seus quadros.