A um grupo de cem moradores da região reunidos na quadra de futebol de salão – cerca de seis mil pessoas vivem no Tororó –, ele passou a mensagem de que sua administração está regularizando áreas que, na prática e juridicamente, haviam sido invadidas no passado. Ao lado do secretário do Meio Ambiente e do presidente do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Agnelo mostrou que seu plano de regularizar os imóveis de cerca de 25% da população do DF, a parcela que vive sobre áreas invadidas, respeita e estabelece critérios de sustentabilidade. No Tororó, por exemplo, em troca da licença os condomínios passarão a ter de fazer coleta seletiva de lixo, reutilizar água e contribuir para a instalação de um Parque Ecológico. “Perseguimos essa licença nos últimos vinte anos, e só nesse governo a coisa aconteceu”, discursou o presidente da associação dos condomínios do Tororó, Mauro Gonçalves. “Nosso agradecimento é sincero”.
Até chegar ali, porém, Agnelo estava visivelmente preocupado. Afinal, nos últimos dez dias ele viu sua gestão envolvida num redemoinho de grampos e notícias de imprensa, aproximando-o, pela via dos vazamentos e da mídia, dos tentáculos do contraventor Carlinhos Cachoeira. Seu chefe de Gabinete, Cláudio Monteiro, se afastou do cargo e pediu a quebra dos próprios sigilos bancário, telefônico e fiscal para provar que não recebeu propina da Delta Engenharia, empresa que tem contrato com o GDF para fazer a coleta de lixo. Os secretários de Saúde, Rafael Barbosa, e de Governo, Paulo Tadeu, foram citados em conversas interceptadas pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, entre o ex-diretor da Delta, Cláudio Abreu, e o próprio Cachoeira. Agnelo, por seu lado, foi chamado num dos grampos sobre o ex-araponga Adalberto Araújo, o Dadá, e Abreu, de ‘01’ e ‘magrão’. Para completar, um dos jornalistas mais respeitados do País, o blogueiro Ricardo Noblat, escreveu que o governador perdera o apoio do PT e já se rascunhava a alternativa de sua renúncia, bem como a de seu vice Tadeu Filipelli, além da convocação de novas eleições! Foi pedrada de todo lado.
Sobre estas e outras questões, no trajeto entre o Tororó e o helicóptero que o levaria para uma inauguração de vias asfaltadas no Núcleo Bandeirante, do outro lado da cidade, o governador falou ao 247. Ele estava afiado. Acompanhe:
247 - O sr. chegou aqui amuado, mas agora não para de sorrir. O que mudou?
Agnelo Queiroz - Uma coisa é fato: o carinho da população e os resultados do dia a dia de trabalho mostram uma realidade completamente oposta a essa que vem sendo apresentada por alguns setores da mídia. Tem ocorrido pela imprensa a veiculação de vazamentos de diálogos entre bandidos, cuja divulgação é feita por não se sabe quem, nos quais se procura, sem um fato concreto sequer, estabelecer ligações entre eles e o meu governo. Mas isso não está funcionando, e nem poderia, mas é claro que chateia. Tudo o que se tem são diálogos entre terceiros, mostrando tentativas frustradas de abordagem ao governo e à máquina administrativa. O problema, para eles, é que isso não vai da certo mesmo, simplesmente porque o GDF não tem rabo preso e esse grupo de contraventores não conseguiu indicar uma pessoa ao menos no meu governo, não conseguiu fazer um negócio ilícito com a minha administração. Nada, zero. É isso o que vai ficando claro por essa divulgação seletiva de grampos. Quando tudo for revelado, vai se saber mais ainda que eles só fizeram tentativas infrutíferas de nos atingir. Tanto é assim que, no ano passado, o representante mais destacado desse grupo, o senador Demóstenes Torres, buscou por todos os lados nos hostilizar. Isso aconteceu porque esse grupo não conseguiu, aqui, nada do que buscava.
- Conseguiu em outro lugar?
- Sim, conseguiu em Goiás, onde efetivamente esse grupo se imiscuiu na máquina pública. Lá, o teor das conversas grampeadas envolve diretamente, e não apenas pela fala de terceiros, importantes autoridades do governo. Lá, até o Procurador Geral do Estado caiu. O que fica claro é que essa crise não é nossa, mas sim do DEM e do PSDB. O que está havendo a partir dessa divulgação seletiva de grampos de conversas entre bandidos, e nunca com ou entre quadros do meu governo, é uma tentativa de envolver o PT nisso. Mas não está colando. As pessoas já estão percebendo que está havendo muita forçação de barra para o nosso lado, isso sim. Aliás, uma forçação gritante.
- Os secretários de Saúde e do Governo foram citados em conversas entre o então diretor da Delta, Cláudio Abreu, e o contraventor Carlinhos Cachoeira, como tendo participado de uma reunião com ele, Cláudio, para tratar de assuntos de interesse do grupo. Os secretários, do seu ponto de vista, estão sob suspeita de envolvimento com o grupo de Cachoeira?
- Em absoluto. Eles não participaram de nenhum conluio, apenas se sentaram com o representante de uma prestadora de serviço regular do governo do Distrito Federal, a Delta, numa conversa republicana. Eles fizeram isso a pedido da própria Delta, que, está demonstrado, tinha dificuldade em dialogar com o meu governo. Tanto que, por um assessor, esse Cláudio teve de pedir muito para falar com um secretário. Não havia e não há facilidades para a Delta aqui. Eu, inclusive, no início do meu governo, mandei abrir uma sindicância para apurar a maneira pela qual essa empresa estava realizando a coleta do lixo. Eles tinham lá umas provas por amostragem do serviço realizado que não nos deixaram satisfeitos, por isso mandamos entender melhor se o trabalho estava sendo feito corretamente. Os grampos que foram divulgados mostram os diálogos entre Abreu e Cachoeira antes da reunião. Pois eu estou esperando a divulgação dos grampos pós-reunião. Esse cara não falou que ia encontrar o ‘01’ e o ‘02’? Então, porque não divulgam o que foi falado por eles depois da reunião? Não divulgam esse grampo porque a intenção é apenas a de lançar suspeitas. Essa segunda parte não está sendo divulgada porque não tem nada de irregular. Nenhum trato foi feito, nenhum acordo espúrio. A divulgação é seletiva. A Polícia Federal monitorou tudo.
- O sr., pelo sim, pelo não, pensa em romper o contrato do GDF com a Delta para a limpeza pública?
- Se esse contrato vier a ser descumprido pela empresa, sim, mas não é o caso até agora. A Delta venceu um licitação feita no governo anterior e tem, a seu favor, uma decisão judicial pelo cumprimento do resultado dessa licitação. Não há motivos para um rompimento, a menos que haja interrupção no serviço prestado.
- Como o sr. avalia o afastamento do chefe de Gabinete Cláudio Monteiro. Isso foi um erro político?
- Cláudio pediu afastamento para se defender da melhor maneira em relação às suspeitas que foram lançadas contra ele. Não quis ser mais um fator dessa disputa política. O que os grampos divulgados até agora mostram é que ele não tem vínculo nenhum com esse grupo. Não há conversas diretas entre ele e qualquer um dos bandidos.
- Como o sr. avalia a situação política criada?
- A intenção por detrás da divulgação seletiva desses grampos não é a de se chegar à verdade, mas apenas a de fustigar o meu governo e envolver o PT nisso. A imprensa deveria avaliar com mais cuidado o que está divulgando, para não ficar à serviço dessa estratégia. Na Folha de S. Paulo, na semana passada, um grampo mostrava o Dadá dizendo que o grupo dele não havia conseguido nomear nenhum gari na minha gestão. Ora, isso mostra que, ao tentarem, eles não conseguiram nos abordar, mas a situação toda sai com sinais invertidos. Há contradições todo o tempo entre o que se tenta dizer e o que realmente os grampos mostram. A tendência é isso ir acabando, acredito.
- E o PT, afinal, está com o sr. ou o abandonou?
- O presidente do partido, Rui Falcão, esteve comigo e, para deixar claro sua posição e a do partido, soltou uma nota oficial de apoio ao meu governo no site do PT. Uma nota oficial, assinada pelo presidente do partido! Como se pode dizer que o meu partido não está do meu lado? Está sim, e integralmente. Eu apoio a CPI. O PT apoia a CPI. Essa posição é unitária, não há divergências quanto a isso.
- O sr. admitiu ter tido um encontro com Carlinhos Cachoeira. Como foi isso?
- Ele era dono de laboratório em Goiânia. Eu, como ministro da Saúde, fui visitar laboratórios em Goiânia. La. eles ficam um do lado do outro. Nessa visita, nos encontramos, mas não houve da minha parte nem da dela qualquer tipo de conversa diferente do que seria normal. Sabe-se agora que ele tinha uma vida dupla, e naquele momento estava no papel de dono de laboratório. O que é que eu posso fazer?
- Como o sr. está se sentido em relação a esses fatos políticos?
- Não vou mais perder um minuto da minha ação de governo por causa dessa crise. Minha agenda de compromissos públicos dobrou nos últimos tempos, tal o volume de obras e realizações que já temos para entregar. O sucesso do meu governo incomoda a grupos históricos da política brasiliense e nacional, mas isso é problema deles. Eu vou em frente. A crise vai ser tratada na CPI.
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