CONCORRÊNCIA NA PRÓXIMA SEMANA VAI RENOVAR 75% DAS LINHAS DE ÔNIBUS DE BRASÍLIA; REALIDADE DE COLETIVOS VELHOS, COM PNEUS CARECAS E SEM CONDIÇÕES DE SEGURANÇA VAI FICAR PARA TRÁS; COMPANHIAS VIPLAN, DE VAGNER CANHEDO, E PLANETA E ALVORA, DE NENÊ CONSTANTINO, NÃO PODERÃO CONCORRER; DEVEM INSS; UFA!
Do Brasília 247 – A realidade de ônibus com quase vinte anos de uso – quando a lei determina o máximo de sete anos --, pneus carecas e estruturas perfuradas está com os dias contados. Na próxima semana, o governo do Distrito Federal lança oficialmente o edital de licitação para a renovação de 75% das linhas de ônibus de Brasília. Feita por determinação pessoal do governador Agnelo Queiroz , a concorrência acerta em cheio em dois dos mais conhecidos – e polêmicos – empresários da capital: o ex-dono da Vasp, Vagner Canhedo, e o presidente do Conselho de Administração da Gol Linhas Aéreas, Nenê Constantino. Este último, pela acusação de ter mandado matar o próprio cunhado, vive, no momento, em prisão domiciliar em São Paulo.
A dupla controla, com estilos bem semelhantes, as três maiores operadoras de transporte coletivo da capital. Tanto a Viplan, de Canhedo, como a Pioneira e a Planeta, de Constantino, são famosas pelo descaso com os passageiros e, também, com seus funcionários. Nenhuma delas poderá participar da concorrência, em razão de dívidas acumuladas com o INSS, pelo não recolhimento de direitos previdenciários. Fica certo, assim, que, necessariamente, o sistema de transporte coletivo de Brasília irá melhorar – as regras da licitação estabelecem a colocação de ônibus novos nas ruas e um amplo redesenho nas rotas. Haverá, a partir dessa renovação, a criação de ‘bacias’ para a circulação dos coletivos, de modo a que viagens longas e diretas sejam substituídas por outras mais rápidas e curtas. A vantagem prevista é o incremento da periodicidade dos ônibus nos pontos, com a multiplicação de oportunidades para o deslocamento dos passageiros.
A concorrência aberta pelo GDF deve atrair para Brasília algumas das maiores companhias do setor no Brasil. Mais do que isso, a disputa irá acabar com uma situação de precariedade que, na prática, perdura desde 1951, quando o atual modelo foi concebido – e o Distrito Federal nem havia sequer sido desenhado pela dupla Oscar Niemeyer e Lucio Costa. O que ocorreu foi que a nova cidade herdou o modelo que prevalecia nesta região de Goiás. Esperto, ao ver as possibilidades de crescimento da capital, Constantino comprou uma das empresas que detinha a concessão, a Alvorada, e passou a operar em Brasília. Pouco mais tarde, na década de 60, Canhedo encontrou o seu filão no mesmo mercado. Desde então, eles se tornaram os barões – ou tubarões – dos ônibus da capital da República, oferecendo um dos serviços mais criticados pelos usuários.
“O sistema de transporte coletivo de Brasília está todo errado”, resume o deputado distrital Chico Vigilante, do PT. “A concorrência tem o mérito de acabar com uma situação de descaso que já perdura por cinco décadas e um sistema que nunca foi bom nem para a cidade, nem para o passageiro, nem para os trabalhadores do setor”. Vigilante lembra que, em razão das péssimas condições de trabalho no duopólio Constantino-Canhedo, o índice de alcoolismo entre motoristas, cobradores e mecânicos é alto. Os acidentes com coletivos são comuns. No mês passado, dois coletivos colidiram em Águas Claras, num acidente provocado, suspeita-se, por pneus carecas e freios precários que deixou mais de uma dezena de feridos. Uma cena de guerra que, no futuro breve, não deverá mais ser comum.
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