Como é difícil escrever uma matéria quando não existe democracia por parte dos meios de comunicação. Você acaba se sentindo uma carta fora do baralho e tudo o que escreve parece meio fora de moda. Aí você soma essa situação à sua idade, já avançada, e o termômetro da autoestima vai ao negativo num segundo.
O jornalista é, antes de tudo, um observador e o que mais tenho feito nos últimos meses é justamente isto: observar a cena política do Distrito Federal. E o que mais tem me incomodado nesse exercício é esta onda de denuncismo contra o governador Agnelo Queiroz, sua família e seus secretários de Estado. Desde janeiro, quando ele tomou posse, os meios de comunicação, principalmente a TV Globo e alguns blogs políticos, têm feitos quase sempre as mesmas denúncias, repetidas vezes, propositadamente, como se fosse para não deixar o assunto morrer.
Aos poucos comecei a entender a mola-mestra que impulsiona tais denúncias, não só as feitas ao GDF mas também ao governo federal. Acho que agora, com o lançamento do livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., as coisas começarão a ficar mais claras e meus netos já poderão ir à escola sabendo quem são, de fato, os verdadeiros bandidos deste país.
Miséria e doenças
O raciocínio é tão simples, que todos devem saber disso, mas ninguém põe no papel, na tela, nas ondas do rádio. Todos sabem que um grupo de empresários domina os investimentos feitos no Distrito Federal e que essas pessoas, supostamente, têm uma espécie de chefe, de orientador político, que se chama Joaquim Roriz, ele mesmo empresário e milionário. Quatro vezes governador do DF, senador que renunciou duas semanas depois de eleito devido a denúncias de corrupção e acusado pela Justiça de ser um dos chefes do esquema no Banco de Brasília (BRB), que sumiu com R$ 223 milhões. Um doce de pessoa.
Em 1978, quando se elegeu deputado federal pelo estado de Goiás, Roriz deu início à uma estratégia que acabou levando ele e sua troupe aos píncaros da glória. Começou a trazer gente humilde do Norte de Minas Gerais e do Nordeste brasileiro para o entorno do DF. Essa gente foi chegando por aqui de pau-de-arara, se ajeitando nas encostas dos morros, construindo barracos, sem nenhuma infraestrutura, mas com a promessa e a garantia de que iriam, um dia, ter a escritura de suas terras. Para isto, bastava invadi-las. Foi o que eles fizeram e fazem até hoje, só que em escala menor, mas fazem.
Manter indefinidamente a promessa de dar a escritura significava ter a certeza do voto. Fazer obras, mesmo que precárias, em torno desses lotes, significava mais votos ainda. E assim nasceram dezenas de cidades – hoje são 30. De invasões, passaram a regiões administrativas. Tudo feito à base de promessas. Mas aí veio o governo Cristóvam. Houve um breque, mas os tentáculos de Roriz foram mais fortes, e a tomada de lotes teve continuidade. A invasão do cerrado e a miséria trouxeram doenças e transformaram o entorno de Brasília num dos lugares mais pobres do país.
Prato cheio para a mídia
Agnelo Queiroz tomou posse em janeiro deste ano e ainda não teve sossego em relação à onda de denuncismo. Há cerca de um mês, quando ele finalmente transformou a Vila Estrutural em cidade e deu início à entrega de escrituras definitivas dos lotes, tudo ficou explicado. Naquele momento, Agnelo estava retirando os dois principais trunfos de Roriz e de sua turma, conseguidos a “duras penas” (fora do alcance da Justiça) ao longo dos últimos 30 anos. Ou seja, estava colocando um fim no modus operandi do grupo.
Primeiro, interrompeu o meio mais fácil e desonesto de conquista de votos, que é o de manipular a opinião de uma gente que aguardava há anos a entrega de suas escrituras definitivas. Agora, essas pessoas, de posse de seus lotes, terão a liberdade ampliada para escolher em quem votar. Segundo, tirou da mão de políticos e empresários oportunistas o mercado da invasão, da venda do lote ilegal. Agora, todos entendemos melhor o significado do ataque denuncista contra o governador. De uma coisa tenham certeza: todas as denúncias contra governos trabalhistas, como o nosso, têm origem em decisões que beneficiam sempre a maioria.
A mídia tem em mão um prato cheio para reescrever de vez a História do Brasil, e o livro do Amaury vem contribuir para isto. Tem toda a história de corrupção nas privatizações no governo FHC, as denúncias mais que comprovadas contra o Daniel Dantas, enfim, nada que esteja sob a luz da mídia, mas tudo que está por trás da mídia, nas redes sociais, nas poucas revistas e jornais respeitados.
Simples assim, sem segredos.
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